Eu falo de um certo Gonzaga. Eu lembro de um certo Luiz. Houve uma vez uma compositor e cantor nesse Brasil de meu Deus, que se chamava apenas Gonzaguinha. E das cordas daquele violão saíam acordes rudes, secos, embalados numa emoção construída com a dor e a saudade, com o amor que não nasce da rima fácil ou do refrão barato. O cara, rebento da árvore sagrada do velho Gonzaga, o rei do xote e do baião, marcou a música popular brasileira com a lâmina da paixão e da verdade, do sentimento puro e sem disfarce. Um cara que sempre defendeu a liberdade e a democracia num país que, à época, era dominado pela face mais obscura da farda. Num show em Porto Alegre, lá pelos idos de 1979, ele parou a música e disse: “As mudanças mais importantes, mais necessárias, não vem apenas da revolução. Não devemos esperar pela revolução e nem morrer por ela. O que a gente precisa é trabalhar todo o dia pelas mudanças. É no encontro de amigos, de companheiros, no trabalho, no bate papo da esquina, na praia, na praça, nas conversas no sindicato, na igreja, no ponto de ônibus, na mesa do bar que, todos os dias, a gente muda o país…”
Ele já se foi, partiu desta num acidente brutal de carro, voltando de um show numa estrada no interior do Paraná, vai fazer 12 anos já. Mas deixou pra gente uma obra rara. Gonzaguinha faz falta e, certos dias, a voz dele invade o ambiente sem pedir licença, cantando canções de rasgar o coração, entoando o aboio da vida.
É realmente rara a sua obra.