Água racionada nas grandes cidades do país. O quadro, descrito pelo poder público como “crise hídrica”, nada mais é do que a grave constatação de que a água acabou em algumas regiões. E vai faltar em outras. No discurso político, culpa da seca. Na explicação dos técnicos, resultado de décadas de descaso, falta de planejamento de alternativas de captação e abastecimento, degradação ambiental acelerada, sem proteção das nascentes, dos rios, dos córregos, além do uso irracional e sem controle de um recurso que está sob risco de extinção. A seca foi, com o perdão da expressão, a “gota d´água”.
O curioso é que toda a discussão sobre o tema só surgiu agora, quando racionar se tornou inevitável. Isso vale também para a falta de energia, intimamente ligada à água, já que sobrevivemos graças às hidrelétricas. Chegou a fazer parte dos discursos de políticos, no ano passado, a afirmação de que não haveria crise, apagão, aumentos de preços. Tentou-se encobrir o sol com um prato de comida, tido como nosso maior programa social.
É que neste país, ano eleitoral é quando se pode dizer tudo, no afã de iludir e obter votos. E isso prospera, impera no nosso meio porque ano de eleição é quando se expõe e se manipulam as paixões, como se o eleitorado fosse uma torcida de futebol. E grande parte age como se fosse. Passado o pleito, ou a partida em que um time ganha e outro perde, os problemas aparecem com força, como que libertos depois de um período obscuro, quando estiveram aprisionados debaixo do tapete que forra o chão das falcatruas, das falácias e da ignorância. O pecado individual de deixar-se iludir é pago com sofrimento coletivo. E nesse jogo, não há vencedor. Perdemos todos.