Enviado por Lunaé Parracho
Dom Pedro Casaldáliga
Bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia/MT
Há 500 anos que “o índio é aquele que deve morrer”. 500 anos proibidos para esses povos classificados com um genérico apelido, negadas as identidades, criminalizada a vida diferente e alternativa. 500 anos de sucessivos impérios invasores e de sucessivas oligarquias “herdeiras da secular dominação”. 500 anos sob a prepotência de uma civilização hegemônica, que vem massacrando os corpos com as armas e o trabalho escravo e as almas com um deus em exclusiva. Por economia de mercado, por política imperial, por religião imposta, por bulas e decretos e portarias pseudocivilizados e pseudocrístãos. já se passaram, então, 500 anos para aquele povo de povos que tinha que morrer e finalmente, mesmo continuando as várias formas de extermínio, “os Povos Indígenas são aqueles que devem Viver”.
“Não há vontade política” se diz. Pior ainda: há positiva vontade política contra a causa indígena. Os povos indígenas teriam o pleno direito a exigir vontade e ação políticas oficiais para sua sobrevivência e realização, mas não esperam, não vamos esperar, que as autoridades
responsáveis se responsabilizem mesmo. Os povos indígenas, através
de várias organizações e com gestos emblemáticos ou heróicos rasgam
as portarias, recuperam suas terras, arriscam a própria vida.
Felizmente há muitos setores da sociedade e da Igreja, na ameríndia e no Mundo, que somam a sua solidariedade à luta indígena. E aí entrou, faz agora 40 anos, nosso CIMI, pequeno, mas teimosamente fiel. Podemos celebrar a data com ares de jubileu. Pela cotidiana fidelidade de tantos irmãos e irmãs, pela acolhida que os povos indígenas têm dado ao Cimi, pelo testemunho maior de nossos mártires. E queremos celebrar o jubileu reassumindo o compromisso de por vida com a Causa Indígena, “derrotada e invencível” como causa evangélica que é. Apesar de tanta cobiça e idolatria sobre as terras indígenas, contra suas culturas alternativas, contra o sonho divino da terra sem Males.
Para isso queremos rebatizar em conversão diária nossa espiritualidade e nossa pastoral. Com indignação profética, com solidariedade militante, com esperança pascal. Na caminhada fraterna e sororal com todos os movimentos de libertação, seguindo aquele que é o Caminho verdadeiramente alternativo, a Verdade de deus feito humana história e a Vida plena contra todo sistema de morte. Nessa caminhada são particularmente “os Povos Indígenas aqueles que devem Viver”.