Depois da partida de Chico Anizio para os palcos do “além do aquém”, como dizia o personagem “Vampiro brasileiro”, em que o humorista interpretava um vampiro desastrado e canastrão, o humor brasileiro tem mais uma baixa. Em menos de uma semana, agora quem parte é Millôr Fernandes, o gênio da charge, das frases cortantes, da filosofia ligeira, profunda, do “livre pensar é só pensar”, das peças de teatro, dos textos marcantes sobre a realidade brasileira. Millôr foi (me perdoem a citação!) uma reencarnação literária do quilate de um Machado de Assis. Embora não tenha sido um escritor de uma prosa extensa, de romances, Millôr foi um cronista diário, irônico, investigador da alma brasileira. Tinha um faro para as piadas que, muitas vezes, despertavam apenas um sorriso amarelo e um inevitável: “pois é…”
Eu li Millôr desde a adolescência. Na Veja, na página que manteve por décadas. Também no Pasquim, o jornal que imortalizou tantos jornalistas e chargistas fantásticos, alguns até hoje na lida. Depois fui conhecer o Millôr nos livros e o dramaturgo incisivo. Acho que o lugar para onde eles foram estava triste demais. E o “gestor lá de cima” deve ter pensado que nós não merecíamos mais esses dois gênios do riso, do pensamento, da reflexão sobre nós mesmos. Eles devem ter ido fazer graça para outras plateias, mais dispostas a refletir sobre a própria existência, coisa que aqui são poucos que fazem.
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