Millôr e seus 86
Millôr Fernandes deixou o hospital hoje, depois de um longo período de internação. Espero (eu e milhões de leitores, admiradores) que ele fique bem. Leio Millôr desde muito cedo, quando meu pai assinou a Veja, já nos primeiros números. Quando a revista chegava, era a página do Millôr que eu procurava primeiro. Ia pra lá direto, afoito, sedento de boa leitura, de boas risadas, nem sempre gargalhadas, porque o humor de Millôr, muitas vezes, não é de gargalhar, é de sorrir com o canto da boca ou dar aquele resmungo sorridente: humpf! Um sorriso reflexivo! Uma leitura para pensar. Quase sempre é de dizer: esse Millôr! Esse gênio fantástico, sarcástico, irônico, rápido e certeiro. Nestes 86 anos, não sei o que pode ter passado despercebido à sua caneta atenta. Não sei qual político pode ter se livrado de uma piada de Millôr. A ele não escapam os dramas e dilemas do cidadão comum, brasileiro, mas com a “pegada” universal, aquele olhar único que ele tem para as coisas mais simples ou mais absurdas da vida. E tudo isto muito bem escrito, numa linguagem poderosa, com um poder de síntese impressionante e com um volume incrível. Evoé Millôr! Que Deus lhe dê muita saúde e lhe mantenha lúcido, como sempre! De tantas frases célebres, esta é apenas uma:
“Fiquem tranquilos os poderosos que têm medo de nós: nenhum humorista atira para matar.” (M.F.)