A comuna de Camaiore, na província de Lucca, região da Toscana, era um reduto fascista. Fica aos pés do Monte Prano, de onde os alemães tinham uma visão privilegiada de tudo o que acontecia lá embaixo. Foi a segunda cidade libertada pelas tropas brasileiras da FEB, com a ajuda dos “partiggiani”, integrantes de brigadas livres que também combatiam os nazistas. Lá, entrevistamos dois personagens marcantes desta história. Moreno Costa foi o primeiro a perceber a chegada dos nossos pracinhas, num jipe americano. Saudou os libertadores como velhos amigos, como se fossem anjos. Terminada a Segunda Guerra, foi trabalhar como desativador de minas. Viveu outro conflito, depois de ter escapado da morte no primeiro. Um italiano com voz forte, parecia um locutor de rádio ou um ator dos filmes de Fellini.
O outro foi Alessandro Pauli. Ele ajudou os brasileiros transportando munição para o alto do Monte Prano, que conhecia como ninguém. Tinha dezoito anos e o irmão dezesseis. Os dois arriscaram as vidas para colaborar com os pracinhas da FEB. Na conversa, lembrou de quando eles encontraram um pelotão de alemães que desconfiaram da atividade daqueles jovens que perambulavam pela montanha. Lutou para ver a sua Camaiore e a sua Itália livres. Venceu. Dias depois de voltarmos ao Brasil, soubemos que Alessandro faleceu com problemas decorrentes de uma leucemia. Tinha 83 anos e mostrou orgulhoso a associação de montanhistas que ajudou a criar. Contou que ainda escalava o Monte Prano. Não uma vez por mês como fazia antigamente, mas pelo menos duas vezes por ano! Onde estiver, acredito que ele deve continuar “guiando” os mais jovens na subida da montanha que tanto amava. Evoé Alessandro!